Mais de 1,45 milhão de famílias assumiram novas dívidas nos últimos dois anos, aponta estudo
Com 29% das famílias em atraso, alta no endividamento reflete as dificuldades econômicas e o impacto de juros elevados no orçamento.
Por Gil Campos: Goiânia, 6 de novembro de 2024 – Um estudo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) revelou que o endividamento das famílias brasileiras continua crescendo. Segundo a pesquisa, 77% das famílias afirmam ter algum tipo de dívida, seja por conta atrasada, financiamento imobiliário ou crédito pessoal. Nos últimos dois anos, cerca de 1,45 milhão de famílias se juntaram ao grupo de endividados, e 29% relataram estar com pagamentos em atraso. Além disso, 13% das famílias afirmaram não ter condições de quitar suas dívidas ou perspectivas para resolver essa situação.
A pesquisa, realizada em julho, consultou 18 mil famílias nas capitais dos 27 estados. De acordo com os dados, a maior parte das famílias endividadas (52%) está concentrada na região Sudeste.
Capitais com Mais Famílias Endividadas
As capitais que lideram em números absolutos de famílias endividadas são São Paulo (2.888.081), Rio de Janeiro (2.028.143), Distrito Federal (765.823), Belo Horizonte (744.993) e Fortaleza (712.465). Em termos de porcentagem, Porto Alegre e Vitória apresentam os maiores índices, com 91% das famílias endividadas, seguidas de Belo Horizonte, Boa Vista e Curitiba, cada uma com 90%. Outras capitais como Campo Grande (66%), Goiânia (68%) e Belém (69%) têm percentuais mais baixos.
Aumento do Endividamento em 2024
O endividamento familiar cresceu em algumas capitais em 2024 comparado a 2022. Teresina registrou o maior aumento, passando de 61% para 86%. João Pessoa (78% para 87%), Porto Velho (72% para 84%) e Fortaleza (71% para 88%) também tiveram altas significativas. Por outro lado, algumas capitais, como Rio Branco (de 89% para 77%), São Paulo (de 75% para 68%) e Curitiba (de 95% para 90%), apresentaram uma redução no percentual de famílias endividadas.
Condições Econômicas e Desafios do Crédito
Em nota, a FecomercioSP destacou que as disparidades no endividamento entre as capitais estão relacionadas às condições macroeconômicas de cada estado, como inflação, taxas de juros e renda familiar. Esses fatores influenciam diretamente a situação financeira das famílias e, em um cenário de juros altos, o crédito se torna mais caro, o que aumenta o risco de inadimplência.
Ainda segundo a FecomercioSP, embora o endividamento possa indicar maior acesso ao crédito e ao consumo, há riscos envolvidos. “Se o endividamento não for bem administrado, ele pode levar à inadimplência e até à exclusão das famílias do mercado de crédito. Equilibrar o consumo com a proteção do orçamento familiar é essencial, especialmente para os mais vulneráveis”, ressalta a nota técnica da entidade.
Perspectiva Econômica para as Famílias
O economista Fábio Pina, assessor da FecomercioSP, observa que, embora o grau de endividamento esteja acima da média histórica, as boas condições de emprego e um mercado de trabalho aquecido oferecem uma perspectiva positiva para as famílias reorganizarem suas finanças. “Não prevejo um choque econômico, mas uma desaceleração gradual da economia no próximo ano. Esse cenário permite ajustes tanto para o setor privado quanto para o governo, criando condições para que as famílias possam reequilibrar suas contas,” afirmou.
Análise Crítica
O aumento do endividamento das famílias brasileiras reflete as pressões econômicas de um cenário com juros elevados e inflação. Esse ambiente torna o crédito mais caro e dificulta a quitação de dívidas, especialmente para as famílias de baixa renda, que dependem mais de financiamentos para equilibrar o orçamento. Embora o acesso ao crédito impulsione o consumo, o risco de inadimplência pode ser alto se o endividamento não for gerido com cuidado. A desaceleração gradual da economia e a continuidade de boas condições de emprego podem ajudar as famílias a organizar suas finanças, mas será essencial a adoção de políticas que promovam um consumo responsável e sustentável.